domingo, 7 de março de 2010

Tentativas de fazer terror

Colocarei aqui minhas tentativas avulsas de escrever algo que possa te dar medo ><'
A história é inspirada numa série de terror da qual não lembro o nome, que vi no fx há um tempo atrás. Esta é a primeira parte, e a trama terá continuação. Espero que gostem 8)
Parte um - A clareira
Odessa - Texas
O sol do meio-dia brilhava com intensidade no céu de um azul perfeito e sem nuvens, e os gramados exibiam um belo tom verde-esmeralda. A grande parte dos alunos da escola foram liberados um pouco mais cedo de suas aulas naquela sexta-feira, e comemoravam o fim do período de provas e a chegada do fim de semana na bonita e organizada fachada da escola.

- Então, conseguiu falar com a sua mãe sobre amanhã? – perguntou Kate, a garota alta e esbelta de exuberantes cabelos cacheados e pele morena.

- Eu mencionei, mas acho que ela não vai criar problema. – começou Julie com um sorriso tímido. – Não se preocupe, vou estar lá. – completou.

- Tudo bem, então. Qualquer coisa você me liga, ok? – falou, querendo parecer simpática, acenando para a garota e correndo em direção a uma picape novinha, onde os garotos do time de basquete estavam reunidos com algumas de suas amigas. Julie acenou para o nada, e depois colocou uma mecha dos cabelos cor de chocolate atrás da orelha, tratando de em seguida procurar a chave do cadeado da bicicleta em sua mochila. Achava tremendamente legal da parte de Kate tentar incluí-la no seu grupo de amigos. Julie era nova na cidade, ela e a mãe haviam se mudado há quase duas semanas, e entrar numa nova escola no meio do ano letivo não era fácil para ela, que estava sendo alvo dos olhares e comentários dos colegas.

Montou na bicicleta e deu as primeiras pedaladas, desviando de alguns alunos até subir a avenida. Para chegar em casa, ela teria que passar por uma pequena alameda, rodeada por um bosque. Ela e a mãe moravam um pouco distante da cidade, e desde que achou um pequeno atalho, cortando o caminho por dentro da floresta em suas indas e vindas da escola, passou a poupar cerca de quinze minutos do seu dia.

Clarice soubera dos imóveis que estavam à venda no centro, apartamentos em bom estado de conservação, mas parecia estar decidida a ter uma nova vida com aquela mudança, começando pela casa em que iriam morar. Julie ficara agradecida ao saber que a mãe não pretendia ser extremista e se afastar da civilização, optando por um sobrado nos arredores da cidade.
Pedalou por alguns minutos, até chegar na alameda. Era uma estrada de terra, cercada por árvores de um verde vivo que, de tão altas, encontravam-se no topo, numa espécie de túnel, e os raios de sol que passavam pelas folhagens formavam faixas douradas e iluminadas até o chão. Seguiu até avistar uma pequena brecha entre as árvores, formando uma discreta entrada. Entrou, pedalando com mais cuidado para não bater em nenhuma raiz pelo caminho. A brisa quente e abafada da floresta assanhava um pouco os seus cabelos, e o esforço deixava sua pele um tanto quanto corada. Na primeira vez que tomara o atalho, apenas por curiosidade, acreditara que nunca encontraria o caminho de volta, com a floresta se espalhando ao seu redor. Agora estava perfeitamente à vontade, confortável no labirinto verde, sem jamais aparentar nenhuma dúvida quanto a direção que tomava.

Depois de mais alguns metros, pôde ver nitidamente um clarão nas árvores mais adiante, um brilho que era amarelo, e não verde. Passou por cima da última franja de samambaias, finalmente avistando a clareira pequena e perfeitamente redonda, cheia de flores e plantas silvestres. O sol estava a pino, enchendo o círculo com uma névoa de luz dourada. Era definitivamente um dos lugares mais bonitos que já havia visto em toda a sua vida.

Voltou a pedalar, a fim de atravessar a clareira e continuar o caminho. Então, mais do que de repente, um forte impacto atingiu o lado direito do seu corpo, arrastando-a por alguns metros e a derrubando no chão coberto de folhagem. Demorou algum tempo para que o seu cérebro processasse o que estava acontecendo. Sentia uma forte dor no tornozelo direito, e a cabeça estava um tanto quanto pesada devido a queda brusca. Deveria tê-la batido em alguma pedra. Com as mãos, começou a se levantar, levando uma delas à cabeça e virando o corpo, sentando no meio da clareira. Sua bicicleta estava jogada mais ao lado, e a sua frente havia uma van azul ainda com o motor ligado.

Fez esforço para levantar, mas uma intensa dor no tornozelo a impediu. Passou a mão pelos cabelos, nervosa, afastando-os do rosto. Decidida, tentou mais uma vez sair do chão, quase conseguindo, mas desistindo, vencida pela dor aguda e caindo de bunda na terra. Soltou um palavrão em meio a uma careta, sentindo raiva de si mesma. Podia ter prestado um pouco mais de atenção para notar que um carro se aproximava, vindo de algum lugar da estrada.
- Ajuda? Por favor! – pediu, mesmo sabendo que pouco ia adiantar. A única pessoa fora ela naquela clareira era o motorista da van, e ,considerando que ele ainda não saíra do carro, parecia não estar disposto a ajudá-la. Imaginou que, se ela não estivesse impedindo-o de seguir o caminho, ele já teria acelerado e saído dalí.

Para a sua surpresa, a porta do motorista foi aberta, e de lá saiu um homem alto e corpulento. Usava roupas escuras e um gorro preto na cabeça. Quando ele passou por baixo de uma faixa de luz dourada do sol, por uma fração de segundo Julie pôde ver seu rosto desconhecido, pálido, e com grandes olheiras debaixo dos olhos que não conseguiu ver a cor. Tinha uma aparência cansada e abatida, de quem não dormir há dias.

- Obrigada. – agradeceu sem entender porque, mesmo sabendo que era obrigação do homem socorrê-la, depois dele mesmo tê-la atropelado. Ele permaneceu sério, e não tinha cara de quem estava arrependido de algo. Caminhava com passos pesados em sua direção, os olhos grudados em Julie de uma forma que dava medo.

Assustada, sabendo que ajudá-la seria a última intenção do homem, a garota começou a rastejar para trás em meio as folhagens, tentando de uma vez por todas levantar, determinada a sair dalí, e dessa vez nenhuma dor iria impedi-la. Milagrosamente, conseguiu ficar de pé, segurando o grito de dor na sua garganta. Quando começou a mancar, tropeçou numa raiz, caindo direto no chão. Sentiu as mãos grandes agarrarem o tornozelo doído com extrema força, fazendo-o latejar descontroladamente, e ela não conseguiu segurar o urro de dor. O desespero tomou conta de seu corpo, e o medo fazia seu sangue correr rápido nas suas veias. Tentou agarrar uma raiz que encontrara mais na frente, mas estava distante demais para que conseguisse alcançar. Enquanto era arrastada, gritava desesperadamente, na esperança de que alguém a ouvisse. Não conseguia nem acreditar no que estava acontecendo, parecia mais um sonho ruim, um verdadeiro pesadelo. A dor somada ao medo e ao desespero parecia uma mistura insuportavelmente amarga.

Ela foi colocada de pé, amparada pelos ombros. Lágrimas quentes desciam involuntariamente pelo seu rosto. O homem abria uma das portas da mala da van enquanto ela se debatia, presa num abraço de quebrar os ossos. No instante seguinte já segurava algo com uma das mãos, uma espécie de flanela de algodão branco e que, mesmo de longe, emanava um cheiro enjoado de algo parecido com álcool.

Quando percebeu o que ele iria fazer, desatou a gritar mais do que nunca, sentindo sua garganta arder. Com as mãos, tentava atrapalhá-lo, enquanto debatia-se de forma violenta. Pensou até em mordê-lo quando sentiu o pano tapar sua boca e nariz, e em poucos segundos a cabeça pendeu lentamente para o lado. A última coisa que viu antes de apagar completamente foi a bicicleta laranja no chão da clareira.

terça-feira, 2 de março de 2010

Sobre o desconhecido e luzes natalinas

Foi num passeio de carro com meus pais que vi, pela primeira vez, aquele enorme prédio azul que se erguia em frente à Praça da Independência. Estávamos nas proximidades do Natal e, naquela época, tínhamos o costume de passear à noite pela cidade para vê-la iluminada por inúmeras luzes natalinas. Eu era muito pequena, e ver todas aquelas janelas ornamentadas por luzes brilhantes foi quase um choque para mim. Lembro que eu tentava olhar, da janela do carro, para todos os lugares ao mesmo tempo, tentando conseguir uma visão ampla de toda a fachada, e que ficava com o pescoço dolorido de tanto olhar para cima. Eu nunca tinha visto algo tão grandioso e magnífico em toda a minha vida e, desde aquele dia, contemplar o Marista Pio X enfeitado como nunca passou a ser um ritual em todos os meus Natais.

Saber que lá funcionava uma instituição de ensino pareceu um absurdo para os meus ouvidos de menina. Eu estudava numa escola muito pequena e com poucos alunos, por isso não parecia possível haver uma escola tão grande como aquela, quase do tamanho da enorme praça que se estendia a sua frente. Passei a estudar lá logo na quinta série, já que a antiga escola não oferecia as séries seguintes. Ainda me lembro da ansiedade que senti ao cruzar aqueles portões de ferro azul marinho em minha primeira visita à escola.

Não vou dizer que os primeiros dias de aula no Marista foram fáceis, porque não foram. Logo no primeiro dia, me perdi durante o intervalo e só consegui chegar até a minha sala graças a Bigode. Mas não era só a imensidão da escola que me assustava. Todos os meus antigos colegas estavam em instituições diferentes, e eu me via num mundo completamente novo e desconhecido, onde teria de refazer todas as minhas amizades, quando eu não tinha uma considerável facilidade para isso. Mas, provando a inocência atrelada a ser criança, em poucas semanas já estava totalmente familiarizada pela turma.

Boas lembranças do meu ensino fundamental? Inicialmente, a sala de leitura. Sempre aparecia para Tia Crizélia com um caderno de caligrafia repleto de pequenas redações feitas durante todo o fim de semana para mais alguma figurinhas. Não, ainda assim eu não consegui completar um álbum. Em seguida, a biblioteca e as eternas conversas com Jesiel, o bibliotecário mais divertido que poderia existir. Veio também o engajamento nos grupos de arte e a participação no Capitão Jesuíno (Segura, Capitão!), que mesmo sendo um grupo de dança, conseguiu me passar valores que eu dificilmente aprenderia sozinha.

O Ensino Médio chegou como um furacão, e eu pude conhecer a sensação de amizade verdadeira, coletividade e carinho por uma turma de trinta e cinco alunos no segundo ano, quando mudei para a D. Naquele ano maravilhoso, conheci um grupo de pessoas especiais que mudaram a minha forma de ver a vida: uma garota muito à frente de seu tempo, um cara eloquente cheio de idéia revolucionárias, uma menina tão cheia de energia que mais parece um poodle, um cara estudioso demais que, certamente, conquistará o mundo, e um certo rapaz que acabou roubando meu coração.

Hoje, estou prestes a iniciar uma nova fase em minha vida, talvez a mais arriscada e emocionante de todas. Sinto como se estivesse no primeiro dia de aula da quinta série, com aquela mesma sensação de receio do desconhecido. É difícil admitir que não somos mais crianças e que nossos erros não poderão mais ser perdoados da mesma forma que eram há alguns anos. Não teremos mais a proteção dos altos muros da escola, nem a preocupação de nossos coordenadores, ao falar sobre vestibular. As brincadeiras e as risadas naquele pátio grande demais acabaram, serão apenas lembranças de um tempo bom. Os professores, encontraremos apenas eventualmente, e não adianta acreditar que veremos os nossos antigos colegas com a mesma frequência que antes.

Mas não, não há motivos para lágrimas. É chegada a hora em que temos que seguir em frente, iniciar um novo ciclo, correr atrás de nossos sonhos, provar ao mundo do que somos capazes e colocar em prática tudo o que aprendemos até então. Nessas horas, infelizmente, nem sempre as aulas sobre função logarítmica e verbo transitivo direto ajudam, mas é exatamente nessas horas em que me orgulho de ter estudado aqui. Não fomos preparados somente para passar no vestibular, mas para a vida, e é esse o diferencial. Somos todos uma enorme família.

Deixo o Marista com uma sensação de dever cumprido e de que encontrarei todas as pessoas que fizeram parte dessa minha caminhada para dizer que deu tudo certo e agradecer pela paciência. Até lá, me contentarei em observar o colégio enfeitado durante o Natal, em relembrar todos os momentos que passei e as pessoas maravilhosas que conheci, e compará-las às luzes natalinas, que brilham com intensidade exuberante no interior das minhas mais doces lembranças.

- Fernanda Barbosa 3°C

 

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